domingo, maio 22, 2011

Pressões Ambientais - 2

  Continuando nossas reflexões sobre este tema, creio que outra das mais constantes pressões que enfrentamos quase todos os dias é a da cobrança externa. Não, não me refiro ainda ao fato de você dever dinheiro ou favores a alguém, mas em especial quero dar evidência para aquela inabalável esperança que sua mãe, seu pai ou algum de nossos entes queridos possui para conosco - a pressão da expectativa de sucesso.

  Aparentemente explícita, a pressão do sucesso é, antes, quase invisível para outras pessoas que não a sua vítima. Facilmente beira os extremos do silêncio e normalmente só se exprime com clareza por duas ou três vezes, acompanhada de um sorriso, tapinhas nas costas e um olhar durante uma refeição tomada a dois ou três, numa circunstância mais íntima, familiar. 

  E como é difícil satisfazer aquela voz que dentro de nós diz: "Não quero ser motivo de vergonha ou diminuição para aqueles cujas expectativas, depositadas em nós, são tão grandes!". Trememos diante da possibilidade de nos deixarmos dominar por esse tipo de sentimento - receio do fracasso. Parece paradoxal, pois dado que é sabido ser comum não se importar tanto com a opinião de estranhos quando nós mesmos estamos seguros acerca de nosso sucesso e nossa carreira (seja ela profissional, acadêmica, emocional ou espiritual), no entanto o mesmo não se dá com aquelas pessoas amadas, caríssimos indivíduos que confiam no nosso triunfo e suspiram por nossa vitória.

  A decisão de tais pessoa em esperar nosso futuro brilhante pode, de fato, amedrontar-nos. Mas por quê? Acaso um sentimento tão intencionalmente positivo poderia paralisar alguém? Poderíamos dizer que não é um exagero da nossa parte afrontarmos tão nobre sentimento de esperança em nosso desenvolvimento pessoal?

  Sem dúvida posso responder "sim" para as perguntas anteriores - e por vários fatores.

  O primeiro deles é a coerção subjetiva. Mesmo aquela pessoa que mais nos ama não pode deixar de esperar de nós coisas muito boas - mas coisas boas segundo a uma perspectiva subjetiva do que seja o nosso sucesso. Não se trata exatamente do que é objetivamente bom para nós naquele momento, mas antes o que é para ela bom para nós. Daí o choramingo de uma mãe ou de uma namorada, vendo uma escolha que considera desacertada, ser tão devastador: pode-se alterar completamente o rumo de uma carreira brilhante apenas porque uma pessoa querida sentiu um súbito mal estar quando defrontada com a escolha da pessoa, acompanhado de uma impressão "profética" de que o indivíduo em questão não deveria escolher o caminho "X", por este ser demasiado íngreme, exageradamente formalista, incompatível com o seu caráter, inadequado para seu círculo social, sonhador demais...

  A segunda razão pela qual a expectativa de sucesso pode ser um fator de pressão externa digno de nota é a projeção existencial. Isso é uma espécie de projeção subjetiva, mas já mais depurada dentro de uma noção de "continuidade" do sucesso duma pessoa qualquer em outrem que lhe é querida fonte de expectação. Seja esse sucesso algo antes podado, não realizado, incompleto ou em construção, frustrados e revoltadinhos sem causa de modo geral são os especialistas em incutir tal sensação nos outros, como um meio de realizarem-se simbolicamente através desses outros indivíduos que, aos seus olhos, precisam ser promissores - afinal, a vontade contrária pode morrer... mas o meu sonho (nele) não!

  E o terceiro motivo está ligado ao desagradável fato de ser observado e julgado a cada passo - é aquilo que chamo fator "Big Brother". Saber-se medido a cada ato, analisado em cada instância, perscrutado a cada centímetro... isso pode muito facilmente oprimir uma pessoa a tal ponto que sua consciência - ao final de algumas semanas desse efeito absurdo que nasce duma desordenada esperança de "sucesso" - provoque um esgotamento nervoso, acompanhado de um sentimento de culpa e de incapacidade. Esse terceiro fator não costuma ser causado por maldade, pelo contrário: é quase inevitável que ele aconteça dentro de alguns gêneros de sociedade humana. Mães neuróticas, irmãos e amigos exigentes demais, esposa e colegas pouco compreensivos certamente estão aí contados como agentes incrementadores da gravidade desse fator.

  Infelizmente, nem sempre compreende-se que um indivíduo deve, com preponderante primazia, buscar sua realização e seu sucesso naquilo que um bem objetivo almejado, uma circunstância concreta inamovível e sua própria reta consciência convergem, coadunando as três num conúbio feliz de livre-vontade, acaso circunstancial e determinação real. A esperança de nossos entes em nosso sucesso deve refletir essa articulação numa ordem adequada, se quer ser verdadeiramente útil, estimulante, frutuosa - e não mais uma força contrária.

  A esperança adequada de sucesso é aquela que subsiste em nós como uma estimulação sadia - e não como uma pressão doentia, fonte de insônia. A esperança adequada ajuda a focalizar o alvo quando a circunstância ou a vontade falham; ajuda a fortalecer os motivos para perseverar nos esforços, momentos em que o foco parece desaparecer no horizonte por falta de ativismo; propõe readaptações de finalidade que reaproveitam a experiência e conhecimento adquirido, quando boa parte do caminho andado é inicialmente desprezada como erro inútil. A verdadeira esperança no sucesso não é um idealismo cego ou uma prática sem realismo: é a persistência em acreditar que o melhor dos futuros possíveis dentro das circunstâncias nas quais estamos tornar-se-á realidade, caso trabalhemos para tanto.

  E não há melhor pessoa para nos oferecer tal esperança do que nossos entes queridos.

  Comecemos nós, pois, a sermos tais sujeitos.

...e que Deus nos ajude!

Bom senso em vídeo

Um pouco de bom senso sempre faz bem. 
Especialmente num tempo tão insano quanto o nosso! 

Acalmar uma mente agitada, transformar os espasmos emotivos de alguém numa risada bem sensata e repleta de sanidade é como tomar um banho de realidade. Da melhor parte dela.

É em razão disso que não posso deixar de louvar a iniciativa do Blog do Sr. Angueth de legendar e traduzir os pequenos vídeos do grupo Theater of the Word Incorporated. Um modo agradável e bem-humorado de explicitar como funciona a mentalidade modernista, a cosmovisão imbecil da "inteligentszia" contemporânea perante problemas clássicos que a humanidade sempre levou a sério - até pouco tempo atrás.


Tais pequenos vídeos nos ajudam a recolocar nos eixos nossa compreensão do mundo moderno. Recomendo vivamente!

...e que Deus nos ajude!